Decidir fazer uma formação que dura quase 4 anos e tem 14 módulos é uma decisão que precisa ser pensada. A formação Biografia e Caminho Iniciático (BCI) pede dedicação, tempo de estudo e principalmente vontade de se auto desenvolver. Pensando nas pessoas que ainda não decidiram se querem fazer, essa série de entrevistas com os docentes da formação Biografia e Caminho Iniciático realizada em Florianópolis na Associação Sagres, poderão te ajudar a refletir sobre o assunto.

Essa série é inaugurada pela Solange Castilho, docente e coordenadora do BCI. Ela é formada em psicologia e na pedagogia waldorf. Além disso co-fundou um jardim de infância há 33 anos em Minas Gerais chamada Escolinha dos Pequenos. Atua na formação biográfica, em consultório e formações pedagógicas.

Por que fazer a Formação Biografia e Caminho Iniciático?

Solange Castilho: O ser humano contemporâneo tem uma necessidade de abarcar o todo e o estudo da biografia ajuda ele a aprender a enxergar essa necessidade. Sabendo que hoje precisamos estar afinados, ou seja,  todo o trabalho se sustenta a partir de um caminho de autodesenvolvimento o BCI traz essa oportunidade. Ao longo dos módulos é possível ver a sua biografia de vários ângulos e de várias formas. Isso dá um suporte e um substrato para poder atuar no mundo com mais propriedade, compreendendo o caminho do indivíduo e como consequência perceber as dinâmicas e as crises que se repetem. Fica muito mais fácil compreender o desenvolvimento das pessoas ao aprender com a nossa própria vida. No BCI cada pessoa acompanha a biografia dos colegas, com isso  tem a oportunidade de ampliar o seu olhar ao perceber o que é arquetípico e o que é individual. Fica cada vez mais fácil de olhar para cada individualidade.

Qual é o processo que as pessoas passam?

Solange Castilho: Primeiro revisitam a história de vida delas e para isso existem vários recursos. Hoje vivemos num tempo que não apenas consultamos os livros mas consultamos a própria vida para entender o que ela diz sobre tudo que acontece. A cada módulo visitamos a vida de difentes maneiras.

Primeiro olhamos o panorama geral, depois o nível dos encontros, depois como atuam as forças do potencial masculino e feminino, depois o ponto de vista dos conflitos e assim por diante. Desta forma é possível ver como cada um lida com as demandas da vida e, com isso, se reconhecer com a possibilidade de se auto desenvolver. É dada a oportunidade de repensar a forma que quer atuar após tomar consciência dos seus atos e sentimentos.

O processo é em grupo e portanto há testemunhas das decisões e também um tutor que fica como referência para acompanhar o processo de cada pessoa. Além disso tem uma proposta de estudo. A cada tema tem uma bibliografia que as pessoas são convidadas a estudar para se apropriarem do conteúdo.

Depois é convidada a fazer projetos de trabalho para colocar o que aprendeu em prática na vida.  É incentivado montar grupos para aplicar a metodologia biográfica. Isso tudo com uma supervisão para começar a trabalhar com esses novos recursos.

Então a formação não serve só para se auto desenvolver. É também um caminho profissionalizante?

Solange Castilho: Tem a opção de fazer o BCI como um caminho de autodesenvolvimento mas além disso tem a possibilidade de aprender a metodologia biográfica para melhorar a prática profissional. De qualquer maneira, uma vez que a pessoa se transforma, ela impacta o ambiente. É importante frisar que não é um curso técnico, por que não basta aprender as ferramentas, precisa ser feito também um caminho de auto desenvolvimento.

Como funciona a metodologia biográfica?

Solange Castilho: Eu vejo duas formas de atuar com essa metodologia. Uma é fazer um resgate biográfico, encaminhando perguntas sobre a própria história da pessoa. Por exemplo como ela brincava, quais eram os ideais dela, como era sua relação com os pais e assim por diante. Começar a levantar os fatos e sentimentos da história da pessoa desde a primeira lembrança até o momento presente. A partir disso, vai poder contemplar a vida da pessoa com o objetivo de dar um passo atrás e olhar o panorama da vida dela como um filme. Perceber o caminho que percorreu, os tombos, os aspectos de luz e sombra, os desafios e o que se repete na vida.

Isso é um aspecto moderno, por que podemos olhar a nossa vida toda como um expectador. Antes não tínhamos uma consciência do eu individual. Estávamos muito misturados com a cultura da família e as demandas da sociedade. Hoje estamos num tempo em que é possível perceber o eu de fora. Isso nem sempre estava disponível na humanidade. Hoje a individualidade está se emancipando. Tanto que podemos morar num país completamente diferente do nosso, podemos escolher uma profissão que não tem nada a ver com a corrente hereditária. O eu foi se emancipando e a metodologia biogråfica nos dá a oportunidade de olhar para o eu com mais propriedade.

É como se contemplasse o quadro como um pintor olha com perspectiva o próprio quadro. Como se o pintor dissesse “Bom, da onde eu estou, com esse olhar, o que eu contemplo para trazer mais equilíbrio e saúde no quadro?” Por exemplo, pintou muito céu e precisa de mais terra no quadro. Olhar para a própria biografia ajudar a enxergar os grandes movimentos da vida e buscar um novo movimento em liberdade de como quer continuar. Assim passa a dar passos, novamente, um de cada vez, agora de uma forma mais saudável e equilibrada. Não mais por que a sociedade quer. Não mais de fora para dentro, e sim a partir do que cada um está reconhecendo.

Isso contempla a metodologia biográfica. Pode ser um processo que faça semanalmente em grupo, uma imersão em grupo ou individualmente.

Tem também um outro caminho que é trazer uma questão que está pulsando e precisa ser vista. Por exemplo uma crise de relacionamento ou questão profissional. A partir da pergunta, nesses encontros, há um comprometimento por um número determinado de questões. O terapeuta que conduz o processo vai visitar o passado de acordo com a pergunta. Porém não vai passar pela sua biografia toda e sim passando pelo presente e futuro ao mesmo tempo. Só quando se faz necessária se recorre para o passado.

Qual é o diferencial da formação em FLN em relação as demais?

Solange Castilho:

Na Formação Biográfica de Florianópolis temos uma  equipe multidisciplinar. Médicos, terapeutas, psicólogos, pedagogos sociais, consultores organizacionais fazem parte dessa equipe que além de ministrar o conteúdo fazem também a gestão do programa de forma horizontal e compartilhada.  Dessa forma, cada profissional traz um colorido. É um belo desafio por que cada um tem uma perspectiva diferente, traz a riqueza de olhares diferentes e o grupo se beneficia com isso.
Durante a realização dos módulos a maioria dos coordenadores está presente. Nos processos em grupo que fazem parte da dinâmica dos trabalhos há sempre o acompanhamento de um coordenador.  Achamos importante alguém que domina a ferramenta para acompanhar o grupo.
Depois de um tempo o coordenador assume a postura de observador e os participantes tem a oportunidade de atuar, por a mão na massa com auxílio de supervisão.

Por que você se apaixonou pelo tema?

Solange Castilho: Nossa que boa pergunta! Eu me formei em psicologia e na época vi que me faltava uma visão de mundo de desenvolvimento do ser humano mais completa. Tinha uma busca por uma expansão de consciência. Nesse caminho de busca eu encontrei a antroposofia. Eu reconheci que era aíi. Depois a reconexão com a psicologia foi a visão da biografia que me completou.

Queria ficar atuando numa linha que tivesse baseado nisso. Tenho muita gratidão por ter achado esse caminho. Afinal de contas todo mundo se faz perguntas existenciais como: Qual é o sentido da sua vida? O que estou fazendo aqui? Acho que a antroposofia atende essa necessidade.

Você fala de antroposofia, o que significa?

Solange Castilho: A palavra antroposofia é “sabedoria do ser humano. O próprio Rudolf Steiner, filósofo que criou a antroposofia disse ser um caminho de entendimento que quer conduzir o espiritual onde ela te dá instrumentos para reconhecer a espiritualidade na vida.

Esse trabalho da biografia numa ciência espiritual que tem uma visão de ser humano com corpo, alma e espíto. Une ciência, arte e religião por isso tem um caminho de contemplar a alma, o corpo e da essência de carrega dentro de você.

Como você aplica a metodologia no seu trabalho?

Solange Castilho: Das duas formas que eu falei anteriormente. Partindo de uma pergunta e recorrendo a biografia quando se faz necessário. Atuo no consultório como psicóloga. Trabalho na própria formação. E trabalho bastante com professores, escolas. Levo essa visão da biografia trabalhando o autodesenvolvimento dos professores, que é fundamental olhar esses âmbitos. No jardim da infância por exemplo, explico o impacto do primeiro e segundo setênio em relação a biografia toda. Trabalho individualmente e em grupo.

Quais atividades são realizadas ao longo da formação?

Solange Castilho: São atividades que contemplam as várias estâncias do ser. Tem atividades que são mais de conteúdo, que se dá através de palestras e estudos da bibliografia indicada. Tem uma parte artística, que tem em todos os módulos. Tem pintura, modelagem, desenho, brincadeiras criativas, teatro, música ou euritimia, arte do movimento, que a pessoa vivendo fonemas e gestos conteúdos que são trabalhados mais contratualmente. Tem atividades em grupo, onde há trocas e conversas significativas. Tem atividades de reflexão individual. Atividades meditação. Contempla uma respiração de estar em pequeno grupo, grande grupo e um momento de recolhimento individual para refletir.

Por que a formação é tão longa?

Solange Castilho: O próprio desenvolvimento é complexo. Ele acontece no tempo. Por isso precisa que os conteúdos sejam dados e para que a própria pessoa amadureça nesse processo precisa de tempo. Por enquanto é o que vimos ser necessário. São módulos intensos e precisam ser digeridos. É longa no ponto de vista no tempo moderno que quer tudo muito rápido, porém o desenvolvimento acontece no tempo.

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